Há aproximadamente dez anos, comprei
um pacote de viagens ao Nordeste com a Soletur, uma das mais importantes e conhecidas agências
de turismo da época. A viagem foi agradável a bordo de uma aeronave da Varig. Para
passar o tempo, a comissária de bordo gentilmente me ofereceu o jornal A Gazeta
Mercantil. Ao desembarcar, para ganhar mobilidade, aluguei um resistente carro
da Lada. Enquanto preenchia os formulários, observava a programação vespertina
da TV Manchete. Ao chegar no saguão da filial do Hotel Hilton, tirei algumas
fotos e encaminhei aos amigos pelo e-mail da AOL.
Uma década depois, além do meu
cabelo, todas as empresas acima listadas sumiram do mapa. É inquestionável que
o ritmo de mudanças no mundo corporativo está mais cada vez acelerado. Uma das mudanças mais visíveis e
significativas diz respeito ao aparato tecnológico desenvolvido pelos agentes
fiscalizadores de todas as esferas do governo. As informações das empresas nunca
estiveram tão disponíveis para serem checadas, cruzadas, auditadas, etc. e tal.
Dando continuidade à sessão
nostalgia, lembro que no início da década passada, atendi uma notificação do
ICMS de São Paulo. A documentação solicitada obrigou o aluguel de um caminhão
baú. Foram necessários 30 minutos para
descarregar o enorme volume de papéis no velho prédio da Secretaria da Fazenda.
Sete anos após, uma notificação
semelhante. As mesmas informações foram pedidas. Desta vez, porém, ao invés da
tonelada de papéis, apresentei alguns poucos formulários e três CDs. Ao
instalá-los no computador, surgiram os primeiros questionamentos pelo astuto
fiscal. “A NF número tal não cruza com os dados informados pelo seu fornecedor.
O que houve? ”. “Ih, esta outra também não...”, “Aliás, estou consultando no
sistema, o IVA da sua empresa está muito abaixo da média do setor...”. Para
arrematar, o golpe de misericórdia, “As compras no ano passado foram muito
altas. Por favor, me apresente o livro de inventário”. “Claro, Sr. Fiscal, vou
pegar, mas permita-me usar o banheiro antes!”
O relato acima aconteceu em 2009.
De lá para cá, se não bastasse a implantação do SPED, o governo federal
aperfeiçoou a Super Receita, intensificou a utilização do COAF e informatizou a
entrega de várias declarações. O governo de São Paulo investiu na divulgação da
Nota Fiscal Paulista, procedimento igualmente adotado pelas principais
prefeituras.
No que se refere ao aparato
desenvolvido para fiscalizar redes varejistas, destaco a DECRED, gerada
compulsoriamente pelas administradoras de cartão de crédito. Na DECRED, são
informados os valores vendidos por meio dos cartões de crédito e débito, em
cada loja. Os dados são cruzados com o faturamento declarado pelo varejista.
Recordo de uma rede que recebeu uma multa de centenas de milhares de reais pelo
correio, sem que tivesse sido sequer notificada.
A causa? As vendas informadas nas suas declarações estavam inferiores às
transmitidas, via DECRED, pelas administradoras de cartão de crédito. Multa gerada
diretamente pelo sistema!
Os exemplos acima servem de
alerta. É importante que as empresas estejam preparadas para esta nova
realidade. A utilização de práticas contábeis e fiscais não convencionais
deixou ser apenas arriscada. Passou a ser proibitiva!
Aos empresários e executivos fica a tarefa de
adotarem estratégias orientadas ao crescimento sustentado dos negócios, por
meio da implantação de boas práticas de gestão, de um correto posicionamento de
marca, de investimentos na formação e retenção de talentos, de implantação de bons
softwares de gestão, do fortalecimento do branding, da correta gestão dos
estoques e do ciclo operacional financeiro, de investimentos em pesquisa e
inovação, da renovação constante das instalações, da adoção de transparência e
governança corporativa.
Caso contrário, estarão brincando
de roleta russa ou farão parte da lista das empresas que nos deixaram. Aqui jaz...
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