Ao longo dos anos, tenho sido questionado acerca do ápice da minha vida profissional. Ao invés de mencionar os cargos de direção que já ocupei, a resposta que me vem de imediato é o início de carreira em uma das mais importantes e renomadas empresas de serviços do mundo, Ernst & Young.
Como entrei ainda muito jovem na
empresa, não tenho dúvidas de que os ensinamentos técnicos e comportamentais
moldaram a minha personalidade profissional. Dentre os pontos de maior
relevância, destaco a primeira e principal atividade que a eficiente metodologia
impunha aos seus profissionais, qual seja a de conhecer cada uma das atividades
dos clientes para, a posteriori, consolidá-las de forma tal que a visão do todo
estivesse garantida.
Nas redes varejistas, por
exemplo, ficávamos horas no salão de vendas e retaguarda das lojas até que o
processo fosse compreendido. Ato contínuo, percorríamos todas as unidades e
departamentos até que o ciclo estivesse concluído. Tenho claro, dessa forma,
que o principal legado do início de carreira na Ernst & Young foi a
compreensão da necessidade de se construir uma visão sistêmica, destinada à
integração de todas as funções corporativas.
Minha experiência executiva de
mais de 20 anos, embasa a percepção de que um dos principais problemas de
gestão no mundo corporativo é justamente a falta de visão sistêmica. Muitas
vezes, os departamentos agem como se a repercussão das suas ações ficassem
restritas às suas fronteiras. Não raro, todavia, a solução ideal concebida
pelos gestores do departamento X, para transpor um enorme problema que lhe
afeta, inicia um novo ciclo de transtornos, desta vez no departamento Y.
No exemplo acima citado, o
problema apenas se locomoveu do departamento X para o Y. A empresa continua
padecendo de um problema. Ademais, quem nunca conviveu com conflitos internos e
reclamações da suposta falta de competência do fulano que gerencia o
departamento X, Y, Z?? A origem de tais
conflitos não seria a dificuldade dos gestores de enxergar o todo?
Para ajudar a compreensão dos
motivos que determinam a falta de visão sistêmica no mundo corporativo, basta
uma breve citação do método de ensino nos cursos superiores de administração de
empresas e afins. As funções de marketing, recursos humanos, finanças,
logística, dentre outras, são aplicadas individualmente, sem que se explore a
integração das mesmas. Perde-se assim uma oportunidade única de exercitar,
ainda na academia, o raciocínio integrado e a formação da visão sistêmica.
A consequência para as empresas é
o excesso de falhas operacionais, perda de eficiência e aumento de custos. Os
clientes sentem o efeito!! Em um mundo cada vez mais competitivo, onde as
margens de lucro, via de regra, estão cada vez mais enxutas, passa a ser preponderante
à alta direção das empresas investir recursos e energia na capacitação dos seus
profissionais e na contratação de bons sistemas integrados de gestão. O retorno
sobre o investimento é garantido, via crescimento sustentado e obtenção de vantagem
competitiva.